Montagem de fotos com xícara de café, livro, notebook, biblioteca e globo da LSE

Como é o treinamento de um cientista comportamental?

100 dias atrás, desembarquei em Londres. Mudei pra cá temporariamente pra me dedicar a uma das decisões mais importantes de carreira e de vida: meu treinamento como cientista comportamental.

Olha, nem sei que palavras escolher pra descrever esses dias. Se soubesse, seriam palavras cuja soma é positiva. Muito positiva. Tá tudo acontecendo ao mesmo tempo, mas tá dando pra navegar. Lugares, idioma, sotaques, cultura, normas sociais, pessoas, situações, o clima. E agora enquanto escrevo me toquei que, desses 100 dias, em 19 estive em isolamento social1.

Protagonizando e dando razão a isso, a experiência acadêmica. Novos conceitos, ferramentas, maneiras de ver o mundo. Uma régua colocada lá em cima, reading lists intermináveis, discussões e ideias sem fim. Estar rodeada de pessoas muito inteligentes e dedicadas. Aquela sensação tem me acompanhado todos esses dias: quanto mais sei, menos sei. Sabe muito esse tal Sócrates. (Pera. Ou nada sabe ele?)

Sem mais delongas, vou agora me esforçar pra entregar o que prometi a você no título: um resumo do que consiste o core do treinamento de um cientista comportamental.

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Um fim é um começo

É, acho que agora dá pra dizer que está chegando ao fim o período da minha vida que chamei de gap year.

O gap year, que também chamei de sabático que não foi sabático, para minha sorte ou azar (ainda não cheguei a uma conclusão) começou junto com essa loucura global que vem sendo a pandemia de covid-19 e apesar do nome “year”, durou quase um ano e meio.

Chego ao final dessa fase da minha vida com a sensação recompensadora de que, nos últimos 17 meses, consegui cumprir aqueles que eram meus objetivos iniciais:

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Statament of purpose afixado na parede

Statement of purpose: minha carta sobre motivação, propósito e visão de futuro

Quando decidi que meu próximo passo na carreira seria o Master of Science in Behavioural Science, me vi diante do comecinho de uma jornada trabalhosa para cumprir uma série de pré-requisitos (e isso apenas para se candidatar a uma posição).

Um desses pré-requisitos é o que chamam de statement of purpose, ou mission statement. É uma carta onde você conta para instituição pra onde está se candidatando por que faz sentido pra você ingressar no programa. Assim a instituição avalia, a partir de seus próprios critérios, se gostaria de ter você lá dentro. É claro que há ainda outros elementos em jogo: o coeficiente de rendimento (CR, ou GPA) na faculdade e em outros cursos de pós-graduação, as cartas de recomendação, a prova pra comprovar o nível do inglês etc.

Escrever um statement of purpose é uma experiência única. Não é algo simples. Envolve muita reflexão sobre passado, presente e futuro, e uma grande capacidade de resumir de forma clara muita informação em poucos parágrafos. Ter certeza de que o que está ali reflete de fato sua motivação, propósito e visão de futuro.

Depois de revisar muitas e muitas vezes e finalmente chegar a uma versão final, é gratificante ver o resultado. Poder se identificar, e ter no documento um norte que te ajuda a sempre lembrar dos motivos pelos quais você chegou onde chegou. Dá orgulho, um senso de direção que faz tudo fazer sentido e retroalimenta minha motivação a cada vez que releio.

O meu statement of purpose foi escrito há uns seis meses e fica afixado na parede de casa pra eu nunca me esquecer dos motivos que me levaram a tomar as decisões que tomei. Hoje decidi “afixar” ele aqui também, com mínimas edições. Afinal, ele é talvez o melhor texto pra explicar o contexto em que o blog foi criado.

Então, lá vai:

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Mosaico de fotos de redes sociais

Não sou quem você vê nas redes sociais

Ou melhor, não sou apenas o que você vê nas redes sociais. Nem eu, nem você, nem ninguém podemos nos reduzir ao conteúdo que postamos (e ao que deixamos de postar).

Ainda assim, é irresistível para nossos cérebros humanos e limitados ficarem com a impressão de que o está lá é tudo o que há — um efeito chamado wysiati, que vem das iniciais de “what you see is all there is”.

É a ideia de tomar a parte pelo todo. Lembra das figuras de linguagem nas aulas de português? O efeito wysiati é tipo a metonímia. E isso não é necessariamente algo ruim. Ajuda a gente a economizar energia e agir.

Como o Kahneman traz em um dos capítulos do livro “Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar”, somos máquinas feitas para pular direto para as conclusões. “O wysiati explica porque conseguimos pensar rápido, e como somos capazes de processar informações parciais em um mundo complexo. Na maior parte do tempo, a história coerente que construímos é próxima o bastante da realidade para que possibilite tomar uma ação razoável.”

Uma escala pessoal não representativa

Na última semana, uma das coisas que mais me deixou alegre foi meus pais terem tomado a vacina da covid-19. Por outro lado, muitas coisas me deixam bem tristes — como a situação do nosso país chegando aos 500 mil mortos na pandemia. Um país liderado por uma pessoa totalmente despreparada, que não me representa e que me envergonha em muitos sentidos.

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O gap year acabou?

O gap year ainda não acabou, mas está perto de.

Meu sabático não sabático, ou gap year como gosto de falar, terá durado pouco mais de 1 ano e 5 meses quando ele “oficialmente” se concluir em setembro próximo e eu der início a uma nova fase da minha carreira: o Master of Science (MSc) in Behavioural Science na London School of Economics. (Este texto tá um pouco mais sério e sem exclamações que o normal, mas – sério – eu tô MUITO feliz com essa próxima etapa!)

Essa etapa acadêmica tem duração definida: 1 ano. O que vai acontecer depois ainda não sei – apesar de gostar de planejar cada passo, quero aproveitar este período pra explorar caminhos possíveis e estar aberta a possibilidades na nova fase da minha carreira como cientista comportamental.

Nos últimos dias, recapitulando o que me motivou a começar esse gap year e já antecipando um balanço antes/depois, vejo como tive sorte em ver as coisas dando certo diante das incertezas desse nosso mundo.

Quando planejei esse período da minha vida, defini quatro frentes que pretendia explorar, conhecer e me desenvolver:

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O problema de usar incentivo financeiro para atrair clientes

Em um mundo hipercompetitivo como o que vivemos, e com zero barreiras para novos entrantes, temos dezenas de opções de produtos de tecnologia para resolver a maior parte dos nossos problemas.

Diante disso, cada vez mais players se veem dividindo o bolo do consumo dos clientes, que nem sempre cresce na mesma proporção. A fatia fica cada vez mais fina, e se torna bem difícil deter um diferencial competitivo. Dura realidade, ainda mais para quem coloca o foco mais no produto do que no cliente.

Junto com a competitividade, vem a pressão por resultados de curto prazo. Afinal, os produtos competem não apenas por clientes, mas também por investimentos, para que então possam continuar a produzir seus produtos e… buscar atrair novos clientes.

A resposta rápida

Para obter resultados de curto prazo, alguns produtos recorrem à estratégia de oferecer incentivos financeiros aos clientes.

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“Why not an MA instead of an MSc?”

Tendo a acreditar que nada é mais eficaz que a inércia pra influenciar comportamentos. Primeira Lei de Newton, né.

Não que seja algo necessariamente ruim. O mundo suga nossas energias, e precisamos economizá-las. A própria natureza funciona assim: busca sempre o caminho do menor esforço.

Há situações, no entanto, em que é preciso escapar da inércia para correr atrás do que se quer — embora o mundo nem sempre facilite as coisas para quem trilha esse caminho.

Neste texto vou relatar um episódio que me fez refletir sobre o incentivo enraizado ao status quo que existe na educação formal, no mundo acadêmico. Esse episódio se resume na pergunta do título acima, e essa pergunta eu ouvi de um professor, em uma entrevista. Mas preciso dar um pouco mais de contexto primeiro.

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A estratégia que sigo para ser feliz com bitcoin

Uma estratégia pra ser feliz com bitcoin (ou qualquer outro ativo especulativo)

Você tem bitcoin?

Se sim, tenho certeza que passou as últimas semanas se perguntando se deveria vender ou comprar mais, quanto e quando.

A decisão de comprar e vender bitcoins envolve bastante risco e incerteza — fatores que podem acabar com a paz de qualquer um que não esteja acostumado (na verdade, mesmo dos que estão acostumados). A diferença entre risco e incerteza é a seguinte: risco é quando sabemos os possíveis resultados e a distribuição de probabilidades entre eles; incerteza é quando não temos como fazer nenhuma estimativa matemática do que vai acontecer.

No caso do bitcoin, tanto risco quanto incerteza estão envolvidos, mas pra simplificar vamos considerar que seja apenas como uma decisão sob risco. O risco é modelado, geralmente, por volatilidade histórica e outras variáveis. O bitcoin (e diversas outras criptomoedas) é tão volátil que, no limite, simplificando mais ainda, não acho exagero considerar que seu risco é perder todo o valor aplicado.

Histórico da oscilação do preço do bitcoin, em R$ (o gráfico é do Google)
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Janelas quebradas e o comportamento humano

Quem vai de carro de São Paulo para a zona sul do Rio passa por uma experiência constrastante e que não se pode ignorar, que é sair da Dutra e entrar na Linha Vermelha. Eu passo por essa experiência algumas vezes por ano — nunca muda. Enquanto a Dutra, via pedagiada, mantém boas condições de asfalto e sinalização, a Linha Vermelha, mantida pela Prefeitura, é uma coletânea de buracos, asfalto irregular, bolsões de água quando chove, falta de sinalização, e margens mal cuidadas. Não tenho dados sobre, e não sei se é cabível a comparação, mas acredito que a Linha Vermelha seja sede de mais crimes violentos (como arrastões) proporcionalmente à Dutra.

Quando estudei Behavioral and Experimental Economics em Copenhagen, um dos temas do curso era cooperação e tomada de decisão relacionada a bens públicos. Lá, estudei algumas pesquisas experimentais que, por sua consistência de resultado, acabaram dando corpo ao que se chamou de teoria das janelas quebradas, ou broken windows theory. A ideia geral é que lugares degradados e mal cuidados tendem a exibir maior índice de criminalidade e violência do que lugares bem cuidados.

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Foto de mesa com notebook aberto em tela do Notion onde se lê "Projetos"

2020, um ano pra nunca esquecer

Faltam menos de duas semanas para terminar 2020, um ano pra nunca esquecer.

Vivemos a experiência de uma pandemia global. Sofremos perdas. Estivemos fisicamente mais distantes uns dos outros. Vimos o desemprego disparar e muitas famílias e negócios em apuros. Uma sociedade fragmentada por fanatismos divergentes, como se política fosse futebol, no momento em que mais precisávamos nos unir pelo bem comum. Muita incerteza e, consequentemente, desinformação pautando discussões acaloradas e, quase sempre, rasas e improdutivas.

Para a humanidade, definitivamente 2020 não foi um ano bom.

Apesar desse contexto difícil, quando faço o exercício de colocar uma lupa sobre a minha vida apenas, o que percebo é que foi um ano muito bom pra mim. Um ano pra nunca esquecer, mas num sentido positivo.

Com um pouquinho de culpa pelo egoísmo de estar comemorando minhas conquistas individuais quando o mundo inteiro continua um caos, vou registrar aqui algumas experiências que fizeram de 2020 um ano de virada pra mim1.

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