Quando planejei meu gap year, em nenhum cenário considerei um problema global que me impedisse de sair de casa e viajar para outros países. Pelo plano inicial, já teria ido pra Califórnia duas vezes (quando fico triste por não ter rolado, lembro da rampada do dólar no primeiro semestre e fica tudo certo 😂).
Mesmo eu tendo ajustado os planos e completado os primeiros três meses bastante animada com os rumos que estou tomando, a terceira viagem planejada era uma que eu não queria perder por nada. É a viagem para Copenhagen, onde vou fazer um summer course em Behavioral and Experimental Economics na University of Copenhagen.
Descancelando o que estava cancelado
Foram muitas idas e vindas pra saber se eu poderia viajar mesmo, dada a pandemia. Com o fechamento das fronteiras, o governo dinamarquês havia anunciado em maio que não permitiria a entrada de residentes de outros países que não os nórdicos até pelo menos 31 de agosto. Já tinha aceitado que não poderia ir. Então fiz novos planos pra agosto e cancelei tudo que estava reservado.
Há poucas semanas, porém, as regras flexibilizaram um pouquinho e consegui confirmar que poderei entrar na Dinamarca como estudante, mesmo sendo residente de um “país banido”, como eles se referem. Então corri pra descancelar tudo que já tinha cancelado.
Fato é que, com a projeção negativa que o Brasil está ganhando no mundo pelo impacto do novo coronavírus, a sensação de incerteza é muito grande. Só vou acreditar mesmo que rolou depois que carimbarem meu passaporte.
Além de mostrar o documento da universidade informando que minha presença física é necessária, não posso exibir sintomas de covid-19 ao desembarcar — se não me mandam de volta! Mas as regras estão sempre sendo atualizadas e podem mudar de ideia. Flexibilizar mais ou restringir mais.
O voo é daqui a seis dias e minha mala já tá pronta. Agora é torcer pra dar tudo certo!
Enquanto isso, otimista que sou, vou contar um pouco sobre o que pretendo fazer por lá e as expectativas pra essa viagem.
Uma imersão em economia
O principal objetivo do meu gap year é me preparar para uma transição de carreira para a área de applied behavioral science, ou ciências comportamentais aplicadas. As três disciplinas que são mais basilares nesse campo do conhecimento são psicologia, neurociência e economia.
Já faz um tempinho que venho estudando neurociência e psicologia aplicada, mas com economia ainda não tinha rolado uma imersão.
O mais perto que cheguei até agora foi com neuroeconomia, onde o conceito de utilidade, criado pela economia, é interpretado como o valor subjetivo, ou subjective value, e a circuitaria envolvida em como percebemos e avaliamos ele é a base para o estudo de como o cérebro toma decisões.
Já tinha lido também alguns economistas (Thaler, te amo), o que deu uma noção de onde estou pisando. Mas faltava uma experiência mais aprofundada aprendendo economia, e agora chegou a hora!
O curso que vou fazer, Behavioral and Experimental Economics, é uma matéria de pós-graduação (mestrado e doutorado) em Economia na University of Copenhagen. Vou aprender com um professor foda na área, Jean-Robert Tyran (tem página na Wikipédia é porque é importante, né, gente). Em poucas semanas, com aulas todos os dias, vou mergulhar em conceitos como:

E também vou ter aulas em um laboratório de economia experimental, aprender como são realizados na prática tantos experimentos de tomada de decisão!
Possivelmente o maior desafio de aprendizado da minha vida até agora
Sei que será extremamente desafiador, possivelmente a experiência de aprendizado mais difícil da minha vida até agora.
O curso tem um componente quantitativo forte. Toda modelagem econômica, inclusive a do comportamento, é quantitativa, matemática. E meu background é todo em ciências humanas (e um pouquinho de biológicas, vai). Sem contar que é minha primeira experiência de estudo acadêmico fora, e em inglês.
Pra dar um toque especial de tensão (ou seria “desespero” a palavra que eu deveria usar?), não consegui me preparar 100% com os pré-requisitos do curso: microeconomia e teoria dos jogos.
A ideia inicial era mergulhar nesses assuntos a partir de maio, mas como a viagem estava cancelada, substituí esse plano por outros projetos. Só agora no começo de julho, quando soube que poderia ir, é que peguei para estudar. Sem chance de eu conseguir matar um Varian (livro de microeconomia) inteiro, ainda tendo outros pratos (ou melhor, projetos) pra equilibrar. Ou seja: vou na cara, na coragem e na vontade de aprender e me desafiar! (Mas aceito orações e sugestões de como obter o máximo do meu córtex pré-frontal de maneira lícita.)
A recompensa
Como recompensa, vou morar por um mês em Copenhagen, sentindo o dia a dia de uma cultura que admiro e de um lugar que tenho muita vontade de conhecer.
Ainda bem que todo mundo por lá fala inglês, porque até agora só conheço uma palavra em dinamarquês: morgenmad (seria mais útil se essa fosse a palavra para “bom dia”, mas como os economistas sabem, o conceito de utilidade é relativo, e aprendi primeiro a palavra para “café da manhã”).
Espero que tudo aconteça como planejado e eu possa voltar aqui dentro de poucos dias pra contar como está sendo essa experiência!